terça-feira, 29 de setembro de 2009

E a montanha pariu o rato (palminhas, palminhas!!)

Afinal eu tinha razão! (é sempre bom saber que se tem razão!)

Cavaco Silva produziu um discurso críptico, sem qualquer valor factual, a não ser a confirmação de que também ele foi acometido pela doença da "paranóia colectiva", que pelos vistos afectou metade da sua Casa Civil, e ainda mais alguns direitistas de carteirinha, para além dele próprio obviamente.

Mas vamos por partes - primeiro vamos aos factos:

1) Cavaco confirma que o seu nome foi utilizado indevidamente por Fernando Lima e daí vem o seu afastamento;
2) Não houve escutas nenhumas, apenas uma TOTAL e COMPLETA crise paranóica.

Estes são os únicos dois factos que se podem retirar das declarações do Presidente.

Em seguida, vamos procurar analisar algumas das afirmações do Nosso Presidente contidas na sua declaração de hoje:

a) O primeiro facto que aprendemos foi que o Sr. Presidente foi profundamente incomodado nas suas férias, por uns tipos horríveis do PS, como se isso não fizesse parte do seu cargo. Esta afirmação denota arrogância e pretenciosismo, e até mesmo preguiça. Cavaco foi eleito para estar SEMPRE disponível para os portugueses.

b) Cavaco Silva acusou o PS de o procurar "encostar" ao PSD. Hello, Cavaco???? Ninguém precisa de o encostar ao PSD, todos nós sabemos que o sr. É do PSD, se não mesmo que É o PSD ou, pelo menos, foi o PSD. Se de facto foi confrontado por membros do PS para se pronunciar, porque não ignorou simplesmente o facto, ou os convocou para se explicarem, ou convocou até mesmo uma conferência de imprensa? O ultimato de que fala parece-me um exagero disparatado, o Sr. Presidente não é obrigado obviamente a responder a nada. Esta afirmação denota um profundo mal-estar com a presença de um partido que não o seu no governo.

c) Fala da tentativa de o puxar para a propaganda politico-partidária e de tentarem manipular a opinião pública, mas a manchete do Público de 18 de Agosto não teve o mesmo efeito, se não mesmo pior? Porque preferiu omitir por completo o comportamento do jornal o Público? Teve algo a ver com a publicação desta notícia? Esta afirmação denota parcialidade por parte do Presidente da República.

d) Afirma que não há crime em alguém sentir "desconfiança" das afirmações de outrém. Ora, da mesma forma que não há crime em se sentir desconfiança das afirmações de outrém, também não há crime em que esse outrém se defenda das acusações de desconfiança, e queira limpar o seu bom nome! Esta afirmação é aliás um pouco pobre e supérflua. Utilizar do senso-comum popular não fica bem a um Presidente, do qual se exige um discurso mais elevado e racional. Esta afirmação denota falta de nível intelectual por parte do Presidente da República

e) Afirma ainda que existem "vulnerabilidades" no sistema informático de Belém... Nas afirmações que fez fica evidente que o Sr. Presidente da República deve entender muito pouco se não mesmo NADA de informática, de emails, etc. Não que seja grave, mas se não percebe nada, mais vale ficar calado. O que tem a ver a circulação de um email interno do Público com a vulnerabilidade ou não do sistema informático de Belém????

f) O presidente afirma que deixou para depois das eleições de domingo as pretensas "explicações" para evitar interferir na campanha eleitoral - apesar de o fazer agora acabando por interferir noutra campanha eleitoral. Será que o Sr. Presidente, que devia de facto ser isento, acha que as Autárquicas não são igualmente importantes para o "Superior Interesse Nacional"? Se o Sr. Presidente acha que trazer este assunto para a comunicação social no passado mês de Agosto foi uma tentativa de manipulação, não podem ser as suas declarações de agora uma evidente tentativa de manipulação também do acto eleitoral que se avizinha? Isto é muito grave.

Finalmente, muito ficou por explicar e, principalmente, o que fica do discurso e do comportamento de Cavaco, é que não é de facto imparcial como afirma ser, e que permite uma ligação "perigosa" entre os seus assessores e a Imprensa, em nome de uma pretensa "lealdade" que tem a esses mesmos assessores, e que devia estar abaixo dos interesses da Nação.

Outra palavra que ficou totalmente ausente no seu discurso foi a palavra "escutas"...

Enfim, a montanha pariu o rato, lá no PSD e nos sindicatos de profes bateram todos muitas palminhas e a telenovela continua... mais uma vez em prol dos verdadeiros problemas da nação e dos problemas das localidades.

Sobretudo, o comportamento de Cavaco ficou muito aquém daquele que deve ser o comportamento de um Presidente da República. Cavaco deu uma no cravo, outra na ferradura. Se por um lado diz que opta por não interferir na campanha política, este discurso demonstra que não tem quaisquer problemas em interferir directamente na política (mesmo que não na campanha legislativa, e apesar de o fazer em plena campanha para as Autárquicas) nacional, ao demonstrar parcialidade e ambiguidade nas suas declarações e ao atacar directamente membros do partido de Governo, que terá de convidar a formar novo Governo daqui a duas semanas.

Que saudades de Jorge Sampaio!

4 comentários:

  1. Mesmo... Acho que foi um discurso deprimente e com mentiras. Associar o início da polémica aquando da publicação do email em vez da notícia publicada pelo Público em Agosto e não desmentida por ele próprio na altura, demonstra muita fraqueza de carácter.

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  2. Tem que um dia destes fazer um post acerca de licenciaturas tiradas à pressa, fechos de universidades de um dia para o outro, projectos desenhados e mal amanhados, freeports e...

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  3. Caro Zé,

    Não falo desses assuntos porque os considero meras insinuações, ataques pessoais e campanhas difamatórias. O discurso do "bufo" nunca me atraiu, ainda menos quando o objectivo por trás é denegrir e prejudicar a imagem de outrém porque não se consegue bater o adversário jogando "limpo", e para isso recorre-se a batotices... e sabe, até lhe digo, sabe qual a grande diferença entre José Sócrates e Cavaco??? É que o Sócrates nunca teria feito um discurso tão pobre, tão mal feito, tão cheio de ambiguidades e parcialismos(ao contrário do que afirmou, aliás) como proferiu Cavaco.. e isso faz toda a diferença.. a um político exige-se que seja capaz de produzir um discurso claro, corrido e inteligente, coisa em que Sócrates é Rei. Aliás Sócrates tem sido bastante cívico e educado neste tema, como lhe é característico quando fala de assuntos de interesse nacional, tentando não dizer muito sobre o assunto. Aqui se vÊ a diferença entre um bom político e um palhaço

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  4. acho que hoje estás mesmo magnânimo. Classificar o discurso do Cavaco "críptico"...

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